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Mindfulness deveria fazer parte do currículo escolar, dizem pesquisadores britânicos

28 de novembro de 2022

Estudo realizado pelas Universidades de Cambridge e Manchester, na Inglaterra, mostrou que o bem-estar dos adolescentes cai substancialmente quando eles passam para o Ensino Médio. Para especialistas, práticas de psicologia positiva, como a atenção plena, poderiam ajudar.

Matemática, português, história, ciências e… meditação. É assim que deveria ser o currículo escolar das crianças, segundo um estudo realizado por pesquisadores das Universidades de Cambridge e Manchester, na Inglaterra, e publicado no British Journal of Developmental Psychology.

De acordo com os cientistas, aulas de atenção plena, meditação e outras práticas de psicologia positiva, incluídas na grade comum de todos os alunos, seriam ferramentas importantes para combater a queda da satisfação dos jovens, na transição da educação primária para o Ensino Médio.

O estudo, feito com mais de 11 mil jovens, mostrou que a felicidade e satisfação deles com amigos, escola e família cai substancialmente entre os 11 e os 14 anos. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores usaram dados de um estudo feito com pessoas nascidas entre 2000 e 2002 e calcularam uma pontuação de bem estar para cada uma delas. Nesse cálculo, foram considerados fatores como vantagens econômicas e bullying. Os resultados mostraram que a maioria dos adolescentes tinha um alto nível de satisfação com a vida aos 11 anos, mas, aos 14, a maioria estava extremamente insatisfeita, com a taxa de bem estar caindo 79%, em comparação com a pontuação média de todo o grupo três anos antes.

O trabalho, que avaliou a felicidade dos jovens em várias áreas da vida, sugeriu que as crises mais dramáticas estavam relacionadas à escola e ao relacionamento com os colegas. “Embora este seja um grupo grande e diversificado de adolescentes, vimos uma queda consistente no bem-estar”, disse Ioannis Katsantonis, da Faculdade de Educação da Universidade de Cambridge, que participou da pesquisa, segundo o Daily Mail. “Um dos aspectos mais marcantes foi a clara associação com mudanças na escola. Isso sugere que precisamos urgentemente agir mais para apoiar o bem-estar dos alunos nas escolas secundárias em todo o Reino Unido”, orientou.

Os adolescentes que tinham uma autoestima mais elevada aos 11 anos tiveram uma queda menos expressiva aos 14. Para os cientistas, isso sugere que os esforços para manter o nível de bem-estar elevado durante as futuras transições de níveis escolares, devem começar o quanto antes, nos primeiros anos da educação primária.

As mudanças sugeridas pelo estudo, além da inclusão de aulas como meditação e mindfulness, também esbarram na atitude do corpo docente. Para os especialistas, os professores devem celebrar as conquistas dos alunos, enfatizar o valor das coisas que fazem bem e evitar comparações negativas com outros alunos.

“A ligação entre autoestima e bem-estar parece especialmente importante”, afirma a professora Ros McLellan, especialista em bem-estar do aluno e coautora do estudo. “Apoiar a capacidade dos alunos de se sentirem positivos sobre si mesmos durante o início da adolescência não é uma solução definitiva, mas pode ser altamente benéfico, já que sabemos que o bem-estar deles é vulnerável. É muito importante que isso seja sustentado – não se pode fazer algo apenas uma vez quando os alunos iniciam o ensino médio, ou implementar uma prática ocasional aqui e ali. Um esforço conjunto para melhorar o senso de autoestima dos alunos pode ter resultados realmente positivos. Muitos bons professores já estão fazendo isso, mas talvez seja ainda mais importante do que pensávamos”, completa.

O que é mindfulness?

Nosso cérebro costuma oscilar entre passado e futuro: vivemos angustiados avaliando o que já foi ou tentando antecipar o que ainda não aconteceu. A proposta do mindfulness, técnica de meditação e filosofia de vida (versão laica da meditação asiática), é a atenção plena (tradução livre de mindfulness) no aqui e agora. “Significa estar presente, com foco, observando tudo o que você faz”, diz a educadora Marianna Muradas (SP), que ensina a prática para grávidas e puérperas como ferramenta de equilíbrio emocional. Segundo ela, cada pensamento gera uma resposta fisiológica, como a liberação de cortisol ou serotonina, hormônios ligados ao estresse e humor.

Exercícios simples de respiração, por exemplo, têm efeito tranquilizador no corpo e ajudam a gerenciar o estresse. “Quando nos concentramos na respiração completa e profunda, passamos do sistema nervoso simpático (reações de luta ou fuga) para o sistema nervoso parassimpático (relaxamento e receptividade)”, afirma a psicóloga Daniela Nogueira, especialista na primeira infância (RJ).

Fonte: Revista Crescer – Globo